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A vida humana, a cada momento, é o resultado ou a soma de todas as possibilidades conseguidas: possibilidades de optar, de decidir, de fazer, etc. E à medida que vamos preferindo opções em detrimento de outras, valores em detrimento de outros, vamos também orientando a nossa vida segundo determinados parâmetros e, com isso, abandonando outras possibilidades, que nunca chegaremos a saber se seriam melhores ou piores, enquanto desta forma vamos limitando as possibilidades futuras.
O nosso campo de acção, à medida que a vida fluí, é cada vez mais estreito. A nossa liberdade actual está naturalmente condicionada pelo uso que fizemos da nossa liberdade passada, que por sua vez limita a liberdade futura. Um acto de liberdade presente é um compromisso com o futuro. A liberdade não é uma abstracção, é uma prática. É uma prática que se reflecte em toda a nossa vida. Desta feita, comprometido pelas suas opções passadas, pelas suas paixões e orientações de vida, pela sua educação e cultura, pelo modo como vê a vida e o mundo, mas também pela sua constituição física e psicológica, o homem está cada vez mais limitado na sua acção. E mais limitado está aquele que se julga para além dos outros, porque não compreendeu nada do outro nem da vida. Com efeito, o homem está limitado por várias condicionantes que, em conjunto, condicionam a sua situação. E como o homem está sempre em situação, e porque cada situação está limitada por um conjunto de condicionantes, já não posso alterar a minha situação actual, porque não posso alterar as situações que a antecederam. E, não raras vezes, nem o arrependimento nos pode dissolver a intranquilidade devida às opções incorrectas que tomámos. O que quer dizer que a minha vida hoje poderia ser outra se tivessem sido outras as opções, outras as vivências, outras as condicionantes, outras as situações.
António Pinela, Reflexões.