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FILOSOFIA

A Filosofia nasce na Grécia, em Mileto , cidade Jónica da Ásia Menor, hoje Turquia. A sua emergência resulta do facto dos primeiros pensadores sentirem necessidade de compreender e explicar a natureza (Physis) de modo racional.

FILOSOFIA

A Filosofia nasce na Grécia, em Mileto , cidade Jónica da Ásia Menor, hoje Turquia. A sua emergência resulta do facto dos primeiros pensadores sentirem necessidade de compreender e explicar a natureza (Physis) de modo racional.
29.05.11

Não raro, a política convive mal com a ética


António A. B. Pinela

Os filósofos  têm reflectido e escrito sobre as relações entre a ética e a política. Todos defendem a necessidade de harmonizar ambos os conceitos. Com efeito, há entre os pensadores quem defenda que a crise actual da democracia é, em grande medida, uma crise dos fundamentos éticos, ou a falta de fundamentos éticos na formação de grande número de políticos.

Ora, a democracia, para ser viável nas sociedades do novo século, deve assentar sobre certos princípios que se transmutam em condições básicas e necessárias ao sistema político. Princípios que fundamentam a ética-política são, por exemplo, a legitimidade democrática, o respeito pelas opções do eleitorado, a convivência educada no meio político, o cumprimento das promessas eleitorais, a eficácia da praxis política, o combate sem tréguas à corrupção e a justiça social. Se o todo ou a parte de algum destes princípios perde consistência, esboroa todo o valor democrático que constitui o sistema político, decorrendo de tal situação a descrença na democracia e o consequente rumo à anarquia e ao autoritarismo.

Estas reflexões têm a ver com o que vamos vendo, ouvindo e lendo. Alguns políticos, à esquerda e à direita, reclamam-se de genuínos defensores dos valores da democracia (como eles gostariam que ela fosse), das classes mais injustiçadas (a classe operária, ou a classe média, ou os pequenos e médios empresários ou os grandes capitalistas, consoante lhes dá mais jeito, no momento). Então, nos púlpitos que conseguem, no Parlamento, na comunicação social ou na rua, gritam “exigindo” dos governantes que procedam de forma ‘X’ ou ‘Y’, conforme esteja mais na moda ou que pensam que lhes rende mais apoio.

Mas como pode alguém exigir que ‘A’ faça o que ‘B’ quer, sendo ‘B’ quem exige e ‘A’ quem tem a legitimidade democrática para governar? Ora, conviria saber que a legitimidade democrática não se conquista em “assembleias” com votação de braço levando, nem nas manifestações de rua, nem em comícios programados para a hora dos telejornais, nem tampouco através da gritaria que alguns fazem! Para quem ainda não sabe, ou prefere ignorar, a legitimidade democrática conquista-se pela legitimação do voto dos cidadãos, expresso nas urnas em assembleias de voto, cujo enquadramento a Lei da República determina.

Para que o povo se expresse sobre se a governação do país está a ser bem ou mal conduzida, para além das manifestações de desagrado e de indignação que produz, através da palavra, da escrita ou da manifestação legítima, periodicamente efectuam-se actos eleitorais. Se os governos, legitimamente empossados, não governarem com eficácia os destinos do país serão penalizados em actos eleitorais ulteriores. Os eleitores retiram-lhes o poder e transferem-no para outro Partido ou coligação, de onde sairá outro Governo. É assim, e não como gostariam que fosse aqueles que se julgam investidos de alguma especial e única sabedoria democrática. Já é tempo disto saberem. Mas, como diz o povo, «quem torto
nasce, tarde ou nunca se endireita».

Se há coisa que me desagrada na praxis política, de alguns senhores que estão no activo, que ostentam como profissão conhecida a de político, é o modo ligeiro e biltre como tratam os seus pares. É aqui que começa a rarear a ética. Veja-se com que ligeireza se maltratam! Isto não ocorre noutras profissões. Vale tudo. Sem rebuço nem pestanejar, desmentem-se e injuriam-se quanto tem oportunidade para o fazer. A propósito de tudo e de nada, observe-se como passam o seu tempo a maldizer e a atacar-se uns aos outros, agarrando-se, com unhas e dentes, ao acessório, ignorando o essencial! É uma beleza estar atento ao que dizem alguns políticos, que nunca fizeram outra coisa na vida senão palrar… Palram de tudo e de nada com a mestria de quem nada sabe, porque nada fizeram, a não ser palrar... Aprende-se muito com eles! É um espanto!

Umas lições de ética-política, mesmo por correspondência, ou on-line, fazia-lhes bem. Pelo menos talvez aprendessem que todos somos pessoas e, como tal, a todos é devido o respeito que a convivialidade confere.

É de todos sabido que a política, no nosso tempo, não goza de grandes simpatias nem de prestígio social. Por isso, devemos ser muito cuidadosos com os comportamentos que assumimos. Qualquer transgressão a ética é condenada pelos cidadãos, decorrendo disso que dificilmente se recuperará a confiança e adesão dos cidadãos para a causa pública. Os candidatos a político deveriam estar atentos.

É urgente que os actores políticos, todos eles, sejam transparentes e actuem e falem à sua dimensão, não querendo demonstrar capacidades que não lhes foram reconhecidas, nem potencialidades que lhes estão ausentes, devido à sua posição no xadrez político.

Cada um é o que é. E se cada um é o que é, devido às suas opções e posições relativas, é um erro, que se paga caríssimo, querer fazer crer aos menos cautelosos, que se tem outras capacidades, outros poderes que não nos pertencem. A isto chama-se, além de tolice, demagogia. (António Pinela, Reflexões).

12.05.11

Porque temos necessidade de reflectir?


António A. B. Pinela

O acto de pensamento que apelidamos de reflexão é sempre um acto presente. No entanto, a reflexão é sempre reflexão sobre o passado: o que nos aconteceu, o que já pensámos. É, portanto, pensamento sobre uma situação. O ser humano é sempre um ser em situação: no trabalho, na vida familiar, na vida social, etc.

O que nos leva a reflectir é, portanto, o estarmos sempre presentes, e esta presença implica permanentemente a inquietação e a dúvida. Perante estas, o homem procura uma posição existencialmente assumida, confortável, e a inteligibilidade da situação porque passa ou passou. Assim, do ponto de vista filosófico, o homem posiciona-se sobre a realidade que o envolve do ponto de vista crítico, para obter a clarificação e, assim, poder orientar a sua conduta. Por esta via, e se as coisas do mundo também o despertam, ele amplia a sua reflexão e é capaz de apreender os grandes problemas universais que o inquietam, como: As origens, O sofrimento, As situações-limite, A injustiça, O destino, A morte, O significado da existência, A dimensão do amor, A existência de Deus, entre outros.

A partir das interrogações inquietantes, sempre eternas, que perturbam a humanidade, o homem procura e delineia para si uma resposta. Por isso se diz, e com razão, que a reflexão filosófica caracteriza-se pela subjectividade, porque é um perguntar pessoal. Enfim, a atitude filosófica concorre para que a) o homem filosofante se empenhe num esforço crítico, cuja finalidade é obter maior certeza perante as dúvidas imediatas; b) a reflexão filosófica determina a nossa conduta; e c) a dúvida, a crítica, o sentimento do não saber e a consequente pesquisa – princípios fundamentais da afirmação humana – concorrem para que o homem se consciencialize dos grandes temas universais, e se vincule a uma atitude perante a vida, o saber e o Mundo.

Este é o caminho que determina o Homem consciente, informado e livre, que é o Homem total. O homem ao aperceber-se da multiplicidade do existente, ao sentir dificuldades na interpretação das "realidades" Natural e Social, ao perguntar-se porquê assim e não de outro modo, sente necessidade de reflectir sobre si mesmo e o mundo exterior: o mundo envolvente, "misterioso", "contraditório". Então, procura responder a essa emergência interrogativa.

As interrogações iniciais, sobre problemas existenciais, dirão alguns, são demasiado irracionais e pueris, e pouco ou nada terão a ver com as vivências concretas! No entanto, tenhamos presente que todas as experiências sempre têm um princípio, e que aos primeiros balbucios pode seguir-se a fase de afirmação. O interrogar ingénuo, a procura sem encontrar, é já o alimento imprescindível para o desenvolvimento ulterior do espírito e é também o filosofar que emerge. Com efeito, todo o homem - mesmo que de todo o ignore - pratica uma filosofia: é a filosofia espontânea que é comum a todo o ser humano.

Filosofar implica, em graus diferentes, a consciência do pensamento. Pensamento é a faculdade de pensar, é todo o fenómeno da consciência. Devemos, no entanto, distinguir o pensamento que é racional, reflexivo (neste caso, pensar é julgar, é o produto da reflexão) do pensamento que temos imediatamente pelo “conhecimento” dos objectos (que é espontâneo).

Esta noção de pensamento implica, naturalmente, diferentes níveis de filosofar: um situa-se ao nível do perguntar ingénuo, do saber do quotidiano, aquele que a vida ensina! Outro é um tipo de saber premeditado, que problematiza toda a realidade com a intenção de a esclarecer. O esclarecimento, para o homem em situação, é a luz que lhe indica o caminho, mas, por vezes, as trevas ocultam a sua visibilidade e desvia-o do caminho inicial, do caminho da verdade. Quanto sofrimento é causado por tais desvios? Vale a pena reflectir sobre as situações criadas pelo Homem, cada homem. Alguém está imune?

António Pinela, Reflexões.