Um enorme buraco chamado swap
Mais um enorme buraco. O poder financeiro e a incompetência agridem, sem descanso, o Estado Português, lesam os portugueses, sempre em favor dos mesmos – os ricos, os especuladores – aqueles que se sentam à mesa do Orçamento do Estado.
As notícias que vêm a público são de arrepiar o cabelo. Dizem aquelas, que pululam pelos meios de comunicação tradicional e pela Net, que algumas empresas públicas (mais de uma dezena) pagaram ou estão a pagar juros superiores a 20 %, por dinheiro pedido a algumas instituições bancárias.
Serão às centenas os contratos especulativos celebrados pelas empreses públicas, no decurso dos últimos dez anos. Ao que se diz, as importâncias contratadas constituiriam autênticos taleigos azulados, cujo conteúdo seria empregue para despesas, provavelmente, jamais esclarecidas.
As notícias relatam que o enorme buraco já alcançou cerca de três mil milhões de euros que, aliado ao enorme buraco do Banco Português de Negócios (BPN), faz perceber por que razão o país está no estado em que está – a pedir esmola.
Por que chegaram as taxas de juro a este patamar? Porque tais produtos financeiros terão ficado protegidos pela variação da taxa de juro (swap). O Negócio sob esta imagem terá sido feito apenas com bancos estrangeiros (americanos, alemão, inglês e espanhol), comenta-se. Este negócio está a ajudar a causar graves danos ao Estado.
Segundo a informação disponível, na perspectiva das empresas, esta contratação seria uma medida que protegeria as mesmas contra a subida dos juros, mas, diferentemente do que pressagiaram, revelou-se um autêntico sorvedouro do dinheiro público, em favor dos especuladores financeiros. O que representa, para o povo português este negócio ruinoso? Mais austeridade, mais miséria, logo, mais pobreza.
A TROIKA quer que o governo de Passos Coelho/Vítor Gaspar corte mais de 4000 milhões de euros nas Funções Sociais do Estado. O enorme prejuízo, ora descoberto já aponta para valores na ordem de 3000 milhões de euros, o que equivale a 75 % daquela verba ‘swap’. Se adicionarmos o outro buraco já referenciado, o BPN, que já consumiu mais de 5000 milhões de euros ao erário público, ou seja 125 % relativamente à verba que a Troika quer cortar aos portugueses, damo-nos conta de 8000 milhões de euros gastos sem qualquer proveito para os portugueses. Percebe-se, assim, muito bem, que o corte que o governo quer aplicar é desnecessário. Com efeito, ainda sobram 4000 milhões como saldo positivo, que dá e sobra para o governo pagar o que tem extraído aos trabalhadores e aos reformados. Logo, toda esta crise que se tem aplicado a Portugal é um embuste. O dinheiro tem que estar em algum lado. O governo deve procurá-lo.
Pergunta-se, ainda: qual a razão porque os cortes atingem sempre os mais fracos, com a perda de emprego, de subsídios no desemprego, de férias ou de Natal ou na doença, cortes nos salários e nas pensões dos reformados; aumento de impostos? Quem cometeu aqueles erros foram os trabalhadores por conta de outrem, os reformados, os pobres? Ou foram os bem instalados na vida à custa dos anteriormente indicados? Porque não pagam eles os já descobertos 8000 milhões desaparecidos? Onde está a moralidade dos cortes?
Quem gere os negócios dos bancos que vão à falência, ou das empresas públicas que têm resultados negativos, todos os anos? Não são os gestores altamente competentes, pelo menos aos olhos de quem os nomeia e a seus próprios olhos, e que ganham fortunas mensais, se comparadas com o comum dos trabalhadores? Sendo assim, que moral têm os governantes para nos exigirem sacrifícios da dimensão daqueles com que estamos a ser alvejados?
Só estes dois buracos financeiros (banco e algumas empresas públicas) mostram bem como são geridos os dinheiros públicos. 8000 milhões para onde foram? É obra. Seria necessário e saudável para credibilizar política, que todos os sectores do Estado fossem sujeitos a uma profunda investigação.
Para que não sejam sempre os pobres e a classe média (que já não existe, desde Passos/Gaspar) a pagar a factura, todos os Ministérios, e o que deles depende, deveriam passar por uma profunda auditoria – de fio a pavio. Depois de uma acção assim levada a cabo, e chamados a prestar contas os protagonistas responsáveis, creio que os portugueses voltariam a acreditar nos políticos. (Abril de 2013).
António Pinela, Reflexões.