Palavras de Portas
Paulo Portas disse, ontem (01.02.2014), em Valladolid, aos nossos hermanos, na Convenção Nacional do PP espanhol, que os «socialistas são bons a gastar o dinheiro dos outros», mas que depois recorrem aos partidos da direita «quando o dinheiro acaba».
Cheguei a pensar que Paulo Portas era um homem inteligente, conhecedor dos conteúdos de que falava, que racionalizava razoavelmente, quando aplicava a sua metodologia explicativa, por fases, para que, quem o ouvisse o entendesse melhor, dividendo a sua comunicação faseada: 1…, 2…, e, finalmente, 3…
Desta vez, em Espanha, ele não fez isso. E falou como lhe mandou a “cegueira” ideológica, esquecendo-se que na hora dos telejornais muito povo, mesmo a contragosto, o iria ouvir. E o povo que o ouviu, em Portugal, sabe (sigo a metodologia portista):
- Que Paulo Portas não cumpre, enquanto membro do “competente” governo de inspiração “social-democrata”/”democrata cristã”, com o que disse em campanha eleitoral (e os pensionistas e reformados que o digam!).
- Que ainda está por esclarecer a trapalhada com os GASTOS com os submarinos. Pelo menos, eu, ainda não ouvi ou li qualquer esclarecimento cabal por parte de quem tem essa competência, a começar por Portas.
- E finamente, ocorre-me lembrar ao sr. Paulo Porta e ao seu governo «de inspiração “social-democrata”/“democrata cristã”», que eles são muito «bons a gastar o dinheiro dos outros». Que outros? Não o dinheiro dos muito ricos e poderosos, não o dinheiro da alta finança, não o dinheiro das grandes empresas, nem dos bancos, mas sim este governo, onde se inclui o inefável Portas, é muito bom a GASTAR os tostões dos pobres, dos trabalhadores, em geral, e dos trabalhadores em funções públicas, em particular, dos reformados e pensionistas; e é muito bom a tornar miserável a função social do Estado, a empobrecer a escola pública, a definhar o Serviço Nacional de Saúde, a tornar residual a Segurança Social.
O sr. Portas deveria fazer um profundo exame de consciência, quanto às suas atitudes, tomadas de posição e pensamento político. Sei que estou a pedir muito. Como se pode pedir consciência a um inconsciente, a um espontâneo? Paulo Portas é um caso que merece estudo. Talvez desse uma boa tese de mestrado ou de doutoramento. Sei que ele é muito prolífero. Por isso, se alguém se afoitar a tal, deverá delimitar muito bem o tema da sua investigação. Porque o trajecto de Portas, desde, pelo menos, o Independente (1988), “dá pano para mangas”!
António Pinela, Reflexões.