Pensamento convergente versus pensamento divergente
Nota preliminar: A propósito de alguns comentários ao meu post, publicado no dia 16.06.2015: «QUE FALTA VENDER EM PPORTUGAL», entendi que não seria despropositado reeditar, hoje, um texto que escrevi em 2004.
Quem não está connosco está "contra-nosco"». Lembram-se desta frase, que foi pronunciada em Almada, em 1975? Já lá vão trinta anos, mas ainda há muita gente que pensa assim! Para estes não pode haver alternativa. Psicologicamente, denomina-se a este modo de pensar, «pensamento convergente».
É um modo de pensamento orientado para a obtenção de uma única resposta a uma situação. O ser pensante, colocado perante um problema, submete-se a instruções rígidas no sentido de encontrar uma única solução. O seu comportamento é conformista, prudente, rigoroso, mas limitado.
Explicitando, toda a forma de pensar, dos diversos actores, obedece à ordem de comando, daquele que, ocasionalmente, lidera o grupo.
Quem se atrever a pensar diferente, mesmo que o seu pensamento enriqueça os pensamentos anteriores, mesmo que tal pensamento seja lúcido e traga mais-valia, não poderá ser contemplado, porque isso iria contra os ditames do líder e este sentir-se-ia fragilizado, porque o pensamento vencedor não teria sido o seu. E o chefe tem que ter pensamentos...
Todavia, o pensamento convergente, que parecendo muito objectivo, acaba por encaminhar-se para o unanimismo. Logo, é um pensamento ortodoxo, dogmático, não criativo, autoritário. E, por consequência, os defensores deste tipo de pensar, radicalizam-se, não aceitam o debate e, muito menos, a troca de ideias, porque as suas, mesmo que vazias de conteúdo, são sempre as melhores. É a incapacidade de reconhecer que o outro, por mais humilde que seja a sua posição social ou profissional, pode ter rasgos de elevada reflexão e de produção de ideias. Tais sumidades convencem-se que aos olhos dos outros, mas sobretudo a seus olhos, são a luz que ilumina as trevas! A tais, eu recomendaria uma reflexão sobre a célebre frase que imortalizou Sócrates, o pai da Filosofia: «Só sei que nada sei».
Ao invés do pensamento convergente, proponho o pensamento divergente, pensamento criador, mensurável através da resposta a problemas deste tipo: «Que uso se pode fazer de um Posto Público de Internet?» A pessoa, colocada perante o problema, procura todas as soluções possíveis, não se limitando à conformação de uma solução já experimentada, desenvolve as suas respostas por meio de ensaios e erros, por aproximação experimental.
Mas não termina aqui a sua tarefa. Encontrada a sua resposta, há agora que a confrontar com as demais respostas e aceitar, sem melindres, a melhor solução para o problema em análise. É assim que o conhecimento cresce e os problemas se resolvem. É isto o pensamento divergente.
Pensamento que inova, pensamento aberto, receptivo a aperfeiçoamentos, que não menospreza os contributos seja de quem for, que aproveita as experiências exteriores, o que elas têm de enriquecimento para o objectivo do nosso trabalho. Por que não acolher experiências fundamentadas ao longo de carreiras profissionais? Por que menosprezar o saber de estudo e de experiências feito por pessoas que sabem mais do que nós em determinadas valências e vivências?
Não tenhamos dúvidas, podemos conhecer muito bem determinada matéria, mas, é bom não ignorar, para bem do conhecimento e da resolução das situações, que há sempre alguém que sabe um pouco mais do que nós, em determinado assunto específico. É este um princípio essencial da humildade do saber.
António Sérgio (filósofo e ensaísta português) recomendava, na qualidade de aprendiz mais velho, que não fizéssemos uma só leitura, que escutássemos o que os outros têm para dizer, que não menosprezássemos a sabedoria alheia... e, então, decida (António Pinela, Reflexões, Outubro de 2004)